domingo, 29 de setembro de 2019

Idosos são alvo de abusos de bancos e planos de saúde


Empréstimos não consentidos, fraudes e reajustes abusivos estão entre as reclamações mais frequentes

De tirar o sono. A aposentada Maria Audete recorreu à Justiça para tentar reduzir a mensalidade do plano de saúde de R$ 3.213: estimativa de redução para R$ 1.800

Na terça-feira, dia 1º de outubro, é celebrado o Dia Internacional do Idoso. No Brasil, no entanto, quem já passou dos 60 anos parece não ter muito a comemorar. A Defensoria Pública e o Ministério Público do Rio acumulam relatos de abusos financeiros contra idosos e queixas de aumentos que podem ser vistos como expulsórios dos planos de saúde. Sem falar nos golpes que têm consumidores seniores como alvo preferencial. Aos 64 anos, Maria Benedita dos Santos tem um terço da sua pensão comprometida com consignados, a maioria dos quais ela não reconhece ter contratado. Há dívidas com seis bancos. Super endividada, ela recorreu à Defensoria, que está fazendo um inventário de seus débitos. —Esses empréstimos estão comendo uma boa parte dos meus rendimentos. Todo mês vêm vários descontos que não reconheço —conta Benedita. Segundo Patrícia Cardoso, coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon) da Defensoria, as fraudes em consignados são as mais frequentemente relatadas pelos idosos: — Fora golpes que usam os dados do consumidor para pegar empréstimo em benefício de terceiros, há muitos casos em que o idoso tem um valor depositado em sua conta sem que tenha sido consultado. Isso foi exatamente o que aconteceu com a aposentada Maria Angélica Marques, de 68 anos, que há um ano e meio tenta cancelar um consignado não solicitado com o Banco Pan. Depois de reclamar ao banco, sem ter solução, fez um boletim de ocorrência e enviou carta à instituição. Nada se resolveu. —Quando pedi o contrato, constatei que era falsificado. Forjaram minha assinatura e colocaram outro número de telefone e endereço. E o pior, incluíram meu nome no SPC e vivem me cobrando— conta Maria Angélica. O Pan disse estar em contato com a cliente para resolver o caso o mais rápido possível.

Coordenadora do Movimento Longevidade Brasil, Carlota Esteves diz que o sistema bancário é de fato o maior alvo de reclamações dos idosos, que sofrem assédio das instituições: — Muitas vezes um idoso acaba aceitando contratar um serviço para agradar ao gerente “bonzinho”. Quanto mais o idoso se isola do convívio social, mais vulnerável se torna. Carlos Batalha, educador financeiro e membro do Conselho Municipal de Proteção e Defesa do Consumidor, diz que já viu absurdos como a venda de uma previdência privada para uma senhora de 75 anos.

— É preciso entender que há um declínio cognitivo com a idade, e o isolamento social, a exclusão digital, tudo isso aumenta a vulnerabilidade. Não se pode culpar o idoso por cair em golpes —diz. A situação é tão complexa que, na última semana, foi lançado o Sistema de Autorregulação de Operações de Empréstimo Pessoal e Cartão de Crédito Consignado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e pela Associação Brasileira de Bancos (ABBC). As regras, que entram em vigor em janeiro, preveem o bloqueio de ligações para oferta de consignado e tornam mais clara a possibilidade de cancelamento do empréstimo, em sete dias, caso o contrato seja firmado a distância, como prevê o Código de Defesa do Consumidor. No caso de Maria Audete Vilela, de 80 anos, o que afaz perde roso noé a mensalidade do plano de saúde de R$ 3.213. Sem conseguir acordo com a Uni me d-Rio via Procon, ela recorreu à Justiça: —Estou há 29 anos no plano, e agora sinto que querem me expulsar—reclama. O advogado Thiago Loyola, professor de Direito do consumidor da Universidade Candido Mendes, conta que a aposentada venceu o processo em primeira instância e estima que a mensalidade deve cair para cerca de R$ 1.800: —O Judiciário tem se mostrado sensível a esses casos e expurgado as cláusulas que preveem reajustes abusivos. A Unimed-Rio disse não comentar ações judiciais.

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Greta, preservacionistas e ecochatos em geral


João Luiz Mauad

Escrevi ontem um texto sobre o discurso da menina Greta Thumberg na ONU, o qual o Instituto Liberal republicou em sua página. Logo no primeiro comentário, um leitor do IL escreveu o seguinte, em defesa de Greta: “A grande questão é que ainda não compreendemos que a terra é um organismo vivo e que nós seres humanos estamos causando o colapso desse organismo em nome de uma pretensa melhoria na qualidade de vida… Em pleno século XXI não cabe mais pensar em ações que não estejam em comunhão com o desenvolvimento sustentável e o legado ambiental que deixaremos para as futuras gerações. Neste ponto concordo com a ativista Greta! Cada um deve fazer a sua parte, pois assim contribuiremos para a preservação da nossa única casa.”

É um bom resumo do mantra preservacionista, segundo o qual, por vivermos num mundo com cada vez menos recursos naturais, precisamos mudar gradualmente a maneira como vivemos, adaptando nossa economia e nossos estilos de vida a uma nova realidade de escassez, a fim de que as próximas gerações tenham garantida a sua cota de recursos finitos que a natureza disponibiliza.

No início do Século XIX, quando a Terra era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial cresceria em proporções geométricas e que a produção de alimentos e outros recursos não conseguiria acompanhá-la. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, dizia ele.

Atualmente, vivem no mundo sete vezes mais seres humanos que na época do Reverendo Malthus. Depois da Revolução Industrial e do advento do capitalismo, a humanidade progrediu de maneira excepcional, aprendeu a explorar os recursos naturais de forma muito mais eficiente, a produzir alimentos e distribuí-los como nunca antes na História. E, ao contrário do que sustentam os modernos “malthusianos”, mesmo com todo o progresso econômico havido nos últimos duzentos anos – e graças ao extraordinário avanço tecnológico -, as reservas provadas da grande maioria dos recursos minerais, como petróleo, minério de ferro, carvão e muitos outros só fizeram aumentar.

Apesar de todas as evidências em contrário, entretanto, os discípulos de Malthus não esmorecem. Em 1968, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o afamado ecologista Paul Ehrlich, um emérito colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas próximas décadas. No primeiro Earth Day, em 1970, ele diagnosticou que “em dez anos, toda a vida animal marinha estará extinta. Grandes áreas costeiras terão que ser evacuadas por causa do mau cheiro dos peixes mortos.” Em um discurso de 1971, ele previu que “até o ano de 2000 o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos.”

De lá para cá, a população mundial quase dobrou, e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Ehrlich jamais se concretizaram. Pelo contrário, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza tem diminuído bastante, desde 1970.

Aliás, por falar em Paul Ehrlich, ficou famosa uma aposta feita entre este famoso ambientalista e o economista Julian Simon. Ehrlich alardeava que, num mundo finito e de população crescente, os recursos seriam cada vez mais escassos e, consequentemente, seus preços cada vez maiores. Em 1980, Simon propôs a Ehrlich a seguinte aposta: Ehrlich escolheria cinco quaisquer produtos naturais para que tivessem seus preços acompanhados por 10 anos. Caso, no final deste período, os preços fossem maiores que em 1980 (corrigidos pela inflação), Ehrlich venceria, caso fossem menores, a vitória seria de Simon.

Ehrlich escolheu cinco metais: cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio. Apostaram então $200 em cada um dos metais, num total de $1.000, usando os preços de 29 de setembro de 1980 como referência. Durante a década de 80, o crescimento populacional do mundo foi de aproximadamente 800 milhões de pessoas – o maior aumento nominal em uma só década da História. Apesar disso, em setembro de 1990, os preços de todos os metais escolhidos por Ehrlich, sem exceção alguma, haviam caído, em alguns casos significativamente. O estanho, por exemplo, era cotado a $8,72 por onça em 1980, contra $3,70 em 1990.

Em janeiro de 2011, mais um “malthusiano” perdeu uma aposta. Cinco anos antes, John Tierney leu um artigo de Matthew R. Simmons na The New York Times Magazine onde este vaticinava que o preço do barril de petróleo, então na casa dos $65, triplicaria nos cinco anos seguintes e passaria dos $200 durante o ano de 2010. Tierney apostou no contrário – e faturou uma grana fácil.

Por que os malthusianos perdem suas apostas? Porque enxergam o mundo e a economia de forma estática, desconsideram a criatividade humana e o progresso tecnológico.

Embora a teoria da insustentabilidade tenha lá seu sopro de lógica, ela está muito longe da realidade. O economista George Reisman refuta categoricamente a tese em seu livro “Capitalism”, concluindo que, de fato, o mundo nunca esteve tão abarrotado de recursos naturais como agora, malgrado o crescimento exponencial do consumo humano nos últimos duzentos anos. Parece um paradoxo? Vejamos.

A massa da Terra é feita de elementos químicos. Seu núcleo, por exemplo, é formado basicamente de milhões de metros cúbicos de ferro e níquel. Os oceanos e a atmosfera são compostos de incalculáveis quantidades de oxigênio, hidrogênio, nitrogênio e carbono, além de menores quantidades de outros elementos, cada um trazendo consigo inúmeras utilidades, algumas já conhecidas e outras que a ciência irá algum dia descobrir. O petróleo, para começar pelo exemplo mais óbvio, está sob os nossos pés há milhões de anos, mas seu aproveitamento econômico teve início somente durante a segunda metade do Século XIX. O alumínio, o rádio e o urânio, por seu turno, só tiveram serventia ao ser humano de cem anos para cá. Já o emprego industrial das fibras de carbono e do silício aconteceu apenas nas últimas décadas.

O problema não é de escassez intrínseca. Tecnicamente a oferta de recursos pode ser descrita como finita, mas, para todos os efeitos práticos, é infinita, não constituindo qualquer obstáculo para a atividade econômica. O que precisamos é conhecer quais diferentes elementos e combinações de elementos nos são úteis, chegar até eles e empregá-los para a satisfação das nossas necessidades. Em resumo, os únicos limites efetivos para a obtenção das substâncias economicamente utilizáveis são o desenvolvimento científico e tecnológico, bem como a quantidade e qualidade dos equipamentos (capital) disponíveis para esse fim.

A sustentabilidade está vinculada não só ao descobrimento de utilidades para elementos que previamente não possuíam qualquer aplicação prática, ou de novas serventias para aqueles que já possuíam usos conhecidos. Ela se dá também, senão principalmente, pelos avanços que facilitam o nosso acesso a estes elementos. Graças a tais progressos, a quantidade de recursos naturais economicamente aproveitáveis é, hoje em dia, incomparavelmente maior do que era no início da Revolução Industrial.

Praticamente não existem limites para os avanços futuros. O hidrogênio, elemento mais abundante na natureza, pode converter-se, brevemente, em fonte de energia economicamente viável e limpa. Além disso, a energia atômica, os raios laser e os sistemas de detecção por satélites, entre outras tecnologias de ponta, abrem novas e ilimitadas possibilidades de incrementar a oferta de recursos naturais. O que precisamos é descobrir como utilizá-los e reduzir os custos de sua extração, sempre evitando ao máximo agredir o meio ambiente em volta.

Entretanto, se por um lado a natureza coloca à nossa disposição um volume utilizável de matéria e energia que, para todos os efeitos práticos, pode ser considerado infinito, por outro ela disponibiliza pouquíssimos desses elementos na forma de riqueza. O que transforma em bem de uso a maior parte daquilo que a natureza oferece são o trabalho, a inteligência e a razão humanos, os recursos econômicos mais importantes que a natureza colocou à nossa disposição.

A solução, portanto, não está em restringir o consumo, mas em motivar as pessoas para o trabalho e o desenvolvimento tecnológico, algo só possível em sociedades onde prevalecem a liberdade econômica e, fundamentalmente, o direito de propriedade. Tudo de que precisamos é mais capitalismo, único modelo em que as pessoas criativas, engenhosas e diligentes tendem a dedicar-se com afinco à ciência, à pesquisa e aos negócios, pois sabem que o resultado de seus esforços e investimentos reverterá em seu próprio benefício.

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Já era hora de uma voz de peso, como a brasileira, se engajar na desconstrução do discurso militante que ataca a vida e a família parasitando o sistema da ONU


Editorial da Gazeta do Povo

Depois de participar do Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, em janeiro, o presidente Jair Bolsonaro voltou a falar ao mundo na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – evento no qual, tradicionalmente, o primeiro chefe de Estado a falar é o brasileiro. Por mais que as palavras mais aguardadas de Bolsonaro fossem aquelas sobre a Amazônia – dada a repercussão internacional das recentes queimadas na região –, o presidente não se resumiu à questão ambiental. Fez um discurso sólido, de envergadura, posicionando-se de maneira firme e crítica, embora respeitosa, sobre muitos outros temas que lhe são caros e descrevendo a nova postura que o Brasil está assumindo no cenário internacional, nos campos político, econômico e moral.

Bolsonaro abordou alguns temas mais consensuais, como a promoção da democracia no continente americano. O presidente foi duro com o ditador Nicolás Maduro e deixou claro que o caso venezuelano não é de mera “crise econômica”, mas da aplicação fiel das ideologias de esquerda. “O socialismo está dando certo na Venezuela: todos estão pobres e sem liberdade”, disse Bolsonaro, lembrando o destino inevitável de toda nação onde os princípios socialistas são aplicados. O presidente também citou o programa Mais Médicos, desenhado especialmente para financiar a ditadura cubana, com a complacência de órgãos internacionais. A menção à ONU, aqui, não foi nem de longe gratuita, pois a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), parte da triangulação que envolvia também o governo Dilma e o governo cubano, é parte do sistema das Nações Unidas.

E, assim como havia feito em Davos, Bolsonaro fez questão de mostrar o Brasil como um país que deseja se tornar, finalmente, um local atrativo para se fazer negócios. “O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil”, afirmou, demonstrando a iniciativa de aprofundar o enxugamento do Estado e a desburocratização da atividade empreendedora iniciada com a Lei de Liberdade Econômica. Bolsonaro também mencionou o desejo brasileiro de maior inserção internacional, citando os recentes acordos comerciais com a União Europeia e o Efta, e a intenção de aderir à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Os trechos mais aguardados do discurso, no entanto, eram aqueles referentes à Amazônia. Bolsonaro respondeu aos que o descreveram como um líder que pouco se importa com o meio ambiente, defendendo o “compromisso solene com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável”, e mostrando sua disposição em aceitar a cooperação internacional sempre que ela não signifique ameaças à soberania internacional e tentativas de “neocolonizar” a região, em uma referência velada ma non troppo ao presidente francês, Emmanuel Macron, que, no auge da crise das queimadas, havia falado na internacionalização da Amazônia.

Mas o coração da fala de Bolsonaro não estava nem na Venezuela, nem no liberalismo econômico, nem na questão ambiental. No fim do ano passado, afirmamos que o que se esperava de um país do porte do Brasil era que não se isolasse do sistema internacional, mas usasse sua influência para que os organismos internacionais promovessem a dignidade de cada ser humano, desde a concepção até a morte natural. E, com suas palavras na Assembleia Geral, Bolsonaro mostrou que o país abraçará este desafio e pretende ser, nos fóruns multilaterais, um defensor ferrenho da vida e da família e a voz das vítimas de perseguição religiosa.

No fim do discurso, o presidente afirmou que o Brasil está disposto a “assumir as responsabilidades que nos cabem no sistema internacional” e exortou a ONU a “derrotar o ambiente materialista e ideológico que compromete alguns princípios básicos da dignidade humana”. Esta não é tarefa simples: muitas das imposições ideológicas daninhas que Bolsonaro mencionou em seu discurso, como a ideologia de gênero e o desrespeito à vida e à família, encontram guarida dentro do próprio sistema da ONU, usado por militantes para impor seu ideário, especialmente sobre países com menos capacidade de resistir à pressão. Enquanto nos anos 90 a questão populacional e a meritória defesa dos direitos da mulher eram pretexto para se avançar uma agenda de “direitos reprodutivos”, termo eufemístico para a promoção do aborto e outras práticas contrárias à dignidade humana, agora até as mudanças climáticas têm sido instrumentalizadas com essa finalidade. Já era hora de uma voz de peso, como a brasileira, se engajar na desconstrução desse discurso militante.

O sistema internacional do pós-Segunda Guerra nasceu tendo como prioridades a cooperação entre as nações, a promoção da paz e o combate à pobreza. Com seu discurso, Bolsonaro lembrou ao mundo todo essa verdade simples e desmascarou os “engenheiros sociais” que parasitam a ONU e suas entidades. No passado, o petismo usou a expressão “ativa e altiva” para descrever uma diplomacia que não passava de camaradagem com ditaduras e silêncio (quando não conivência) diante das ameaças à dignidade humana. A verdadeira atividade e altivez, no entanto, está na coragem de defender a vida de todos os seres humanos e a célula básica da sociedade.

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Itaipu - a usina de mordomias do STF


CRUSOÉ

Hotéis cinco estrelas, voos em classe executiva, férias esticadas e palestras remuneradas.

Documentos obtidos por Crusoé mostram como a “hidrelétrica de Itaipu” virou uma generosa fonte de recursos para bancar a doce vida de altas autoridades do Judiciário em eventos pelo mundo

Itaipu, ou ““a pedra que canta”, em tupi, era o nome do ponto do rio Paraná, na Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, que os ditadores brasileiros e paraguaios escolheram para construir conjuntamente nos anos 1970 aquela que seria, até o início deste século, a maior hidrelétrica do mundo.

Era, antes de tudo, um projeto de desenvolvimento regional.

Mas, desde a inauguração da usina, em 1982, os milhões de megawatts gerados sempre despertaram dos dois lados da fronteira a cobiça da classe política, interessada em seu polpudo orçamento.

São cerca de 15 bilhões de reais disponíveis por ano, oriundos da venda da energia gerada em conjunto pela estatal brasileira Eletrobras e por sua congênere paraguaia, a Ande.

Dinheiro que, por ter origem em uma companhia binacional, passa ao largo do controle de órgãos como o Tribunal de Contas da União.

O que não se sabia, e que Crusoé revela nesta edição, é que a caixa-preta de Itaipu não “servia apenas aos políticos,” mas, com alguma diferença, também a “altas autoridades do Judiciário.” Documentos obtidos pela reportagem mostram que a hidrelétrica funcionou, durante anos, como um generoso caixa que bancava mordomias e viagens de “ministros do Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, de tribunais regionais federais e de tribunais estaduais.”

Desde 2013, a companhia desembolsou pelo menos “16 milhões de reais para eventos jurídicos diversos.”

O dinheiro que saía dos cofres de Itaipu custeou dezenas e dezenas de passagens em classe executiva para os Estados Unidos e a Europa e hospedagem em hotéis estrelados.

Também foi usado para pagar palestras proferidas por magistrados, entre eles ministros do Supremo Tribunal Federal.

Tudo era viabilizado por convênios firmados por Itaipu com entidades que pediam dinheiro com a justificativa de difundir conhecimento jurídico.

A companhia, então, repassava as verbas a fundo perdido. A lista dos magistrados que de alguma forma tiveram despesas custeadas pelos cofres de Itaipu inclui “seis dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal: o atual presidente da corte, José Antonio Dias Toffoli, Alexandre de Moraes, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski.”

Também aparecem na lista o “presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, e outros 18 ministros da corte.”

O rol de juízes de primeira instância e desembargadores é ainda mais extenso.

Há ainda outras personalidades que, junto com os magistrados, foram convidadas para participar dos tais eventos.

É o caso do presidente da OAB, “Felipe Santa Cruz, o atual secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB, e o senador petista Jaques Wagner.”

Eis alguns dos casos mais emblemáticos que os documentos revelam:

“TOUR ESTENDIDO”

No ano passado, o ministro “Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, viajou com sua mulher,” Yara de Abreu Lewandowski, para Lisboa. Era sexta-feira, 29 de junho, último dia antes do recesso forense de meio de ano.

Em Portugal, o casal visitou outras cidades até que, em 4 de julho, seguiu para Madri.Três dias depois, eles seguiram para Londres em 7 de julho.

Foi de lá que partiu o voo do casal de volta para o Brasil, em 21 de julho.

Todas as passagens foram bancadas com recursos de Itaipu, sob o argumento de patrocinar o “Seminário de Verão realizado na Universidade de Coimbra,” cidade localizada a 200 quilômetros de Lisboa.

O evento foi realizado nos dias 2 e 3 de julho. Durou apenas dois dias, portanto.

Mas, sim, é exatamente o que você entendeu: a verba da binacional pagou todo o restante do “périplo europeu de Lewandowski e de sua senhora.”

“O seminário de Coimbra,” como mostrou Crusoé há um mês, é organizado anualmente pelo desconhecido Instituto de Pesquisas e Estudos Jurídicos Avançados, o Ipeja, e ocorre sempre durante as férias do Judiciário.

A entidade não deixa claro como funcionam os patrocínios de seus eventos nem informa que tipo de despesas costuma bancar – algo que, agora, os documentos de Itaipu trazem à luz.

Na edição de 2017, mostram as notas, “João Otávio de Noronha, o presidente do STJ,” fez algo semelhante. Voou para o evento em Lisboa, que naquele ano tinha três dias, mas depois foi a Berlim, Roma e Madri. O tour durou 25 dias.

As passagens (inclusive as dos trechos internos na Europa) do próprio Noronha, da mulher dele, Denimar, e da filha, Anna Carolina, foram custeadas por Itaipu.

O papelório obtido por Crusoé mostra que “Itaipu gastou nada menos que 800 mil reais” com passagens executivas de magistrados e seus parentes, além de hospedagem e traslado para os convidados em três edições do seminário de verão de Coimbra – “em 2016, 2017 e 2018.”

Mais do que o valor, as notas fiscais e recibos emitidos pelo Ipeja e repassados à companhia a título de prestação de contas confirmam que, via de regra, as excelências convidadas “seguem o padrão de Lewandowski” e aproveitam para esticar a estadia na Europa, com direito às passagens das viagens que realizam internamente nas semanas seguintes, sem nenhuma relação com o evento patrocinado.

“A pretexto de apoiar “debates de temas relevantes” nas áreas de ciências jurídicas e sociais e pesquisa científica” na Universidade de Coimbra, nos últimos três anos Itaipu bancou “viagens de ministros e seus familiares para o Reino Unido, França, Irlanda, Espanha, Itália e Alemanha.”

Até “o atual presidente do STF, ministro Dias Toffoli,” figurou no ano passado como um dos agraciados com passagens executivas para a capital portuguesa.

Ele deixou Brasília em 30 de junho rumo a Lisboa e de lá seguiu para Coimbra, onde participou do seminário em 2 e 3 de julho. Sua volta para o Brasil, partindo de Lisboa, foi só em 21 de julho.

Em alguns casos, a prestação de contas mostra que os ministros aproveitavam para levar seus filhos para o passeio.

Uma das presenças mais frequentes no evento português, o também ministro do Supremo “Marco Aurélio Mello fez isso em 2017.”

Na ocasião, ele viajou com seu filho, “Eduardo Affonso Mello,” auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o STJD.

Os dois deixaram o Brasil rumo a Portugal no dia 30 de junho e só retornaram em 10 de julho.

“DE NOVO, PATROCÍNIO OCULTO”

Além do Ipeja, outra entidade já conhecida e que recentemente caiu no radar da Lava Jato figura como importante “parceira de Itaipu para a realização de eventos com ministros de tribunais superiores pelo mundo.”

Trata-se da “FGV Projetos,” o braço de assessoria técnica da prestigiada fundação com sede no Rio de Janeiro que chegou a ser alvo de um dos desdobramentos da Lava Jato fluminense por suspeita de “elaborar pareceres para o governo de Sérgio Cabral que ajudavam a justificar os acertos ilícitos” entre empresas e o estado.

Nos documentos obtidos por Crusoé, a FGV Projetos foi a instituição que mais conseguiu captar recursos para eventos jurídicos, por meio de dois convênios que “somam 4,9 milhões de reais” e foram utilizados para a produção de “nove seminários e palestras” e para a elaboração de um estudo sobre a imagem do Judiciário.

A prestação de contas mostra que, a exemplo do “convênio com o Ipeja, há casos de ministros de tribunais superiores” que ganharam passagens para o exterior com parentes.

Também há passagens áreas para destinos sem relação nenhuma com os eventos que foram objeto do patrocínio.

De novo aqui aparece o “atual presidente do STJ, João Otávio de Noronha.”

Ele participou da sétima edição do Fórum Jurídico de Lisboa, realizado dos dias 22 a 24 de abril deste ano na capital portuguesa.

O evento, “organizado pelo IDP, o instituto de direito do qual o ministro Gilmar Mendes é sócio,” era mais um com patrocínio de Itaipu, embora a logomarca da companhia não estivesse estampada no material de divulgação.

“A edição de 2019 do chamado “fórum do Gilmar” foi colada com a Semana Santa, feriado no qual tanto o Supremo quanto o STJ” emendaram do dia 17, uma sexta-feira, até 21 de abril, um domingo.

Um dos convidados, João Otávio Noronha foi para Lisboa quatro dias antes do início do evento, em 18 de abril. E, mesmo depois de encerrado o fórum, de novo aproveitou para ampliar seu roteiro.

“Sempre com passagens pagas por Itaipu, de acordo com os documentos apresentados pela FGV” na prestação de contas.

No dia 25, o presidente do STJ seguiu de Lisboa para Paris, onde ficou até 1º de maio.

Por justiça, é importante dizer: Noronha aproveitou a viagem para compromissos profissionais.

Em Paris, ele assinou um acordo de cooperação com o presidente da Corte de Cassação da França, Bertrand Louvel. Isso foi em 29 de abril.

“No mesmo dia, Noronha participou, junto com outros ministros do STJ” e magistrados franceses, de um seminário sobre direito ambiental.

Nada, porém, tinha relação com Itaipu, a fonte pagadora das passagens daquele seu périplo europeu.

“O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, por sua vez, foi outro que aproveitou o evento do colega Gilmar em Lisboa” para passar o feriado da Semana Santa na Europa com a mulher.

Também com passagens pagas por Itaipu, os dois foram para a capital portuguesa em 14 de abril, oito dias antes do início do fórum, e retornaram no dia 22, depois de o ministro proferir uma palestra no primeiro dia do evento sobre “reformas na Justiça”.

“Gilmar, o anfitrião, também viajou às expensas de Itaipu.” Ficou em Lisboa de 19 a 28 de abril.

“O evento do IDP , que tem Gilmar como coordenador centífico, é organizado em parceria com a FGV Projetos.”

Antes, era o próprio instituto do ministro que recebia diretamente os patrocínios “(só de Itaipu, desde 2016, o IDP recebeu 810 mil reais),” como Crusoé já mostrou em reportagem.

Agora, é a FGV quem cuida disso – e por essa razão foi ela, a fundação, que recebeu os recursos da binacional para a edição deste ano do evento.

Para esse mesmo evento também foram convidados “à custa do patrocínio de Itaipu o presidente nacional da OAB, Felipe Santa Cruz, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o senador Jaques Wagner, o ministro do Tribunal de Contas da União Bruno Dantas, o ex-diretor da Polícia Federal Leandro Daiello” e o desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região João Pedro Gebran Neto.

“Santa Cruz, Ibaneis, Wagner, Dantas e Gebran tiveram as despesas de hospedagem custeadas pela binacional.”

Foram alojados no luxuoso Tivoli, um dos hotéis mais exclusivos da capital portuguesa. Daiello teve as passagens pagas pela companhia.

“PALESTRAS REMUNERADAS”

Não foram só passagens e eventos que “Itaipu bancou para as excelências.”

A companhia também foi responsável pelo pagamento, via FGV, de “um cachê de 20 mil reais ao ministro do STF Luiz Fux” por sua participação no seminário “A Reforma da Previdência”, realizado no centro cultural da fundação, no Rio, em março deste ano.

A palestra, intitulada “Contornos constitucionais do sistema previdenciário brasileiro”, foi anunciada pela entidade como a mais importante do seminário, que “contou ainda com a presença dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Tribunal de Contas da União, José Múcio Monteiro.”

Na prestação de contas da FGV não consta que Maia ou José Múcio tenham cobrado para falar.

“Três ministros do TCU,” Bruno Dantas, Benjamin Zymler e Weder Oliveira, também receberam por palestras no evento.

Só que, no caso deles, o crédito não chegou exatamente pela pessoa física.

Foi por meio de empresas que eles abriram exatamente para essa finalidade. “Zymler recebeu 20 mil.”

“Os outros dois ganharam 15 mil” pela participação no seminário.

A prestação de contas apresentada pela FGV Projetos a Itaipu inclui ainda uma “despesa de 410 mil reais” para a elaboração de um “sumário executivo” para uma pesquisa destinada a traçar um “diagnóstico da imagem do Poder Judiciário.”

A pesquisa seria feita, em seguida, pelo Ipespe, instituto do cientista político Antônio Lavareda, com sede em Recife.

Itaipu foi informada de que “o pedido” para que a pesquisa fosse realizada partiu do “presidente do STF, Dias Toffoli.”

O pagamento foi feito em maio deste ano.

Os documentos das prestações de contas também jogam luz sobre detalhes da organização dos eventos jurídicos.

No ano passado, por exemplo, a “FGV Projetos organizou um seminário em Nova York” para discutir direito e economia. O evento foi realizado na Universidade Columbia.

Em seu site, a entidade anunciou que “o seminário tinha o “apoio” da tradicional instituição de ensino americana.” Podia até ter.

Mas não saiu de graça, diferentemente do que a propalada parceria com a instituição americana poderia fazer crer: Columbia cobrou “7 mil dólares para alugar um de seus auditórios” para o palavrório dos brasileiros.

Essa conta também foi espetada nos cofres de Itaipu.

Já a Brazilian American Chamber of Commerce, também anunciada como apoiadora do evento, “recebeu 35 mil dólares.”

Há, no material, casos em que “a patrocinadora Itaipu não tinha sua marca exibida nos eventos.”

Isso aconteceu na edição de 2017 do evento de Coimbra, por exemplo.

Para explicar a razão pela qual a marca da binacional não havia sido exposta no pórtico de entrada do evento e na “newsletter da Universidade de Coimbra,” os organizadores mandaram um documento informando que foi ““por problemas de natureza técnica” com o prestador de serviços que teve seus arquivos danificados”.

“LUXO DE GRAÇA”

Em meio à documentação das prestações de contas, uma outra fatura apresentada pela FGV Projetos chama a atenção.

“Trata-se do pagamento de 211 mil reais feito em 10 de janeiro deste ano por Itaipu” referentes a reservas em um hotel em Nova York para quinze pessoas, em sua maioria autoridades da cúpula do Judiciário brasileiro, como o “presidente do STF e seu colega Gilmar Mendes, além do presidente do STJ e outros três ministros da corte.”

O local reservado para as excelências? O luxuoso Hotel Plaza Athénée, “encravado no coração de Manhattan.”

“As reservas de Toffoli, Mendes, Noronha e mais treze pessoas” iam de 27 de novembro a 1º de dezembro de 2018 e apareciam relacionadas na fatura ao “2º Seminário Direito e Economia, realizado na cidade americana pela FGV.”

O problema é que o evento, como Crusoé mostrou em reportagem publicada no ano passado, foi realizado no começo do mês. A FGV não esclareceu a divergência de datas.

Também não explicou se essas reservas se referem a um segundo evento.

No período que consta dos documentos apresentados na “prestação de contas da GV, Gilmar e Dias Toffoli estavam no Brasil.”

“Só as passagens de ida e volta de Toffoli” que a fundação anexou à prestação de contas somam 27 mil reais.

Em outros eventos, as entidades não deixam claro, “nem mesmo na prestação de contas, quem são as autoridades que estão viajando” e ganhando hospedagens com dinheiro público.

“A FGV Projetos e o Ipeja” utilizam sempre agências de viagens que, muitas vezes, cobram as despesas de várias passagens e hospedagens em conjunto por meio de boletos que não detalham quem são os beneficiários das reservas.

“Em 2016 a FGV Projetos” pagou, em duas parcelas, faturas referentes à reserva de 40 quartos no Hotel Tryp Coimbra para um seminário realizado naquele ano na cidade, mas não detalhou quem se hospedaria.

Ao apresentar a fatura do hotel, porém, o estabelecimento português entregou que uma das reservas faturadas dizia respeito a uma ““noite extra de Gilmar Mendes”.”

“O AFILHADO GENEROSO”

As mordomias eram facilitadas porque as excelências convidadas – e também as entidades que as convidavam — “tinham dentro de Itaipu um aliado.”

Trata-se de Cezar Ziliotto, nomeado em 2013 para o cargo de diretor-jurídico da binacional.

“A nomeação foi assinada pela então presidente Dilma Rousseff.”

“Ziliotto chegou lá a partir de uma indicação do ex-governador do Paraná Roberto Requião em parceria com o então deputado federal Ratinho Júnior,” atual governador do estado.

Percebeu o poder da caneta que tinha em mãos e, em nome da divulgação da imagem da hidrelétrica no universo jurídico, começou a fechar convênios com as entidades e a patrocinar eventos e mais eventos.

Sua boa vontade nos convênios com entidades jurídicas o aproximou, primeiro, de “Gilmar Mendes, dono do IDP.”

Depois, ele ficou próximo também de “Dias Toffoli. Os dois ministros, Gilmar principalmente,” acabaram transformando-o numa espécie de afilhado político em Brasília.

Quando Michel Temer chegou ao poder, em 2016, houve uma corrida pelo cargo, “mas Ziliotto foi mantido.”

No Planalto, a decisão de deixá-lo na diretoria de Itaipu foi atribuída a um pedido de Gilmar.

Em janeiro deste ano, logo após tomar posse, Jair Bolsonaro decidiu militarizar a gestão de Itaipu.

“Pôs no comando da binacional o general Joaquim Silva e Luna. A maior parte da diretoria foi trocada.”

Os convênios com as entidades jurídicas foram rescindidos. Faltava demitir quem os assinava.

Luna, porém, encontrou dificuldades para demitir Ziliotto.

“O esforço de Gilmar e Toffoli para mantê-lo foi grande.” Ziliotto resistiu o quanto pôde.

Até que um cartapácio “contendo detalhes da farra dos patrocínios na diretoria jurídica chegou ao Palácio do Planalto.”

Foi o suficiente para que sua exoneração, antes complicada, finalmente saísse.

Como informou o Diário de Crusoé, a decisão foi “publicada na última terça-feira, dia 7, no Diário Oficial da União.”

ACESSO FACILITADO

A estratégia da diretoria jurídica de Itaipu sempre foi se aproximar das cortes para ter um bom trânsito nos gabinetes de seus ministros.

Muitas das excelências que participaram nos últimos anos de eventos patrocinados pela estatal e, por isso, “tiveram despesas pagas com dinheiro de seus cofres, têm sob sua responsabilidade processos de interesse da companhia.”

De 2015 para cá, só no STF foram protocoladas 14 ações que têm Itaipu como parte.

Três deles tratam de ações de reintegração de posse movidas pela binacional contra “famílias que se instalaram na faixa de preservação do reservatório da hidrelétrica e estão sob análise de Dias Toffoli.”

“Já Marco Aurélio Mello,” que também viajou à custa da empresa, tem sob sua “relatoria uma ação civil que discute se Itaipu pode contratar funcionários sem realizar concurso público.”

O processo se arrasta na corte desde 2012.

“Cezar Ziliotto, o diretor que assinava os convênios de patrocínios,” aparece entre os advogados de Itaipu na ação.

No STJ, só neste ano chegaram quatro processos que têm Itaipu como parte.

Três foram enviados para gabinetes de ministros que também já foram a eventos pagos pela empresa.

Além de beneficiar “institutos famosos e próximos do poder togado em Brasília,” os generosos recursos de Itaipu também eram destinados a entidades menores.

Era raro, mas acontecia de algumas dessas organizações de menor porte e menos prestígio terem prestações de contas serem questionadas pela área técnica da companhia – algo incomum entre as grandes.

Da Amapar, a associação do juízes do Paraná, Itaipu chegou a cobrar informações sobre inconsistências detectadas nos documentos enviados para justificar os gastos em uma série de eventos realizada entre 2017 e 2018 e cujo encerramento ocorreu no luxuoso Mabu Thermas Grand Resort, em Foz do Iguaçu.

Nesse caso, os auditores de Itaipu quiseram saber os nomes dos beneficiários de passagens aéreas e de hospedagens no complexo.

A entidade acabou informando quem eram os passageiros — os “ministros do STJ Luis Felipe Salomão, Paulo Ribeiro e Ricardo Cueva” estavam entre eles –, mas deixou claro o incômodo.

“Destacamos que a exposição de valores individuais viola o direito à individualidade garantido pela Constituição Federal.” A preocupação tinha razão de ser.

Nessa mesma prestação de contas, havia despesas consideradas incompatíveis com o patrocínio, especialmente bebidas alcoólicas: Aperol Spritz, Dry Martini, vinho, cerveja e chopp.

No rol de gastos que haviam sido incluídos entre as despesas pagas com dinheiro da companhia havia até mesmo um frasco de desodorante.

A associação não gostou de ser cobrada:

“Entendemos que todos os valores deveriam ser contabilizados como pagos”.

“‘INEXISTEM MORDOMIAS’”

Crusoé tentou ouvir todos os personagens citados nesta reportagem.

Cezar Ziliotto, o “ex-diretor-jurídico de Itaipu,” disse que não houve pagamento de mordomias para autoridades em sua gestão.

“Inexistem mordomias. Itaipu sempre teve uma política de incentivo à promoção de iniciativas culturais, sociais e jurídicas.

O investimento nesses projetos é positivo para a empresa e para a difusão do conhecimento”, afirmou.

Indagado sobre sua relação com Toffoli e Gilmar Mendes, ele respondeu:

“O responsável pela coordenação dos processos de Itaipu no Judiciário tem o dever de manter um bom relacionamento profissional e respeitoso com representantes de todo o sistema de justiça.

Pessoalmente, tenho respeito e admiração por todos os integrantes dos tribunais superiores”.

“O STF e STJ, para os quais foram enviados questionamentos” destinados aos ministros de ambas as cortes que aparecem como participantes dos eventos, não enviaram resposta.

Gebran Neto, do TRF-4, afirmou que não tinha conhecimento de quem eram os patrocinadores do evento de que participou, em Portugal.

A FGV Projetos, ao invés de responder as perguntas, enviou nota atacando os jornalistas de Crusoé.

““A FGV PROJETOS” repele, com veemência, as insinuações lançadas, que maculam sua imagem e, em ataque ao próprio Poder Judiciário brasileiro, colocam em dúvida a idoneidade de vários de seus membros”, diz o texto.

A nota diz ainda que os eventos realizados pela fundação “somente elevaram o conceito do Brasil no exterior”.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Brasil produz e investe em muitas pesquisas científicas. Resultado: baixo impacto mundial


Marcelo Hermes-Lima

O jornalista paranaense Paulo Briguet publicou gentilmente em sua coluna uma análise que fiz sobre produção científica no Brasil. Mostrei que, em diversas áreas das ciências “exatas” ou “da vida” (as duas juntas são chamadas de “hard science”), o Brasil apresentava uma posição consideravelmente ruim quando ranqueado por impacto científico dos trabalhos.

Na área de Biologia e Agricultura (BioAgro), por exemplo, ficamos em 4º lugar no mundo, em quantidade de trabalhos produzidos em 2015, mas na 43º posição no quesito citações por artigos (CPP, “citations per paper”), entre os 44 países que publicaram pelo menos mil trabalhos nessa área – ou seja, penúltimo lugar.

O indicador CPP é a ferramenta mais utilizada para se determinar o impacto de milhares de artigos, pois seria impossível ler todos e fazer algum tipo de avaliação. Dessa forma, se os trabalhos são relevantes cientificamente, serão citados e poderemos, então, analisar e quantificar tais citações.

Brasil x Suíça
Neste sentido, por exemplo, o Brasil publicou 13,4 mil trabalhos de BioAgro em 2015, recebendo 44,2 mil citações (CPP = 3,29). O primeiro lugar do mundo de BioAgro no ranking de CPP foi a Suíça, com apenas 3.589 trabalhos, mas que geraram 29,8 mil citações (CPP = 8,32). Isso significa que o Brasil teve apenas 39,5% do impacto científico da Suíça em BioAgro.

Críticos poderiam dizer que apenas o ano de 2015 fora analisado, e que neste período específico o Brasil teria ido mal. Para contrapor tal argumento, no entanto, vamos analisar outros anos, realizando uma série histórica.

Análise
Utilizando a base de dados da Scimago, verificamos que o impacto brasileiro de BioAgro em relação ao 1º lugar do mundo variou de 28% a 42% entre 2009 e 2017. O resultado de 2015 (39,5%) ficou dentro dessa faixa. Mas, em relação à posição no ranking CPP, de fato, 2015 foi um ano atípico. Nesse período, ficamos na penúltima posição em BioAgro no ranking CPP. Em 2017, ficamos na antepenúltima colocação no ranking de CPP – outro ano ruim. Mas, nos outros períodos (2009 a 2014, e 2016), ficamos entre 4 a 6 posições à frente do último lugar. Apesar de 2015 e 2017 terem sido muito ruins para o Brasil em BioAgro, os outros anos não foram tão melhores.

O texto da coluna de Briguet também mostrou a posição do Brasil em outras áreas da ciência no ranking CPP. As áreas cobertas foram Física, Química, Matemática, Medicina, Bioquímica e Engenharia, sempre olhando para os resultados de impacto de 2015.

Para ter certeza de que fomos justos em nossas análises, resolvi olhar para os rankings de CPP de 2014 e 2016, comparando com 2015. Ficamos nas posições entre 30º e 43º em listas de 39 a 58 países, dependendo da área e ano, se 2014, 2015 ou 2016. Esse ranking foi feito entre países que publicaram pelo menos 1000 artigos em cada área do saber.

Alta produção, pouca importância
Com essa análise, ficou totalmente claro que o mau desempenho da ciência brasileira não se restringe a 2015 - aconteceram também em outros anos. E não foi apenas em hard-science, mas na área de ciências humanas também. Descobri isso pesquisando subáreas de humanas entre países que publicaram pelo menos 100 artigos.

Vejamos as publicações em História: 37º no ranking CPP de 2016 de 42 países, e 35º lugar de 37 países em 2015. Nesses dois anos, o Brasil apresentou 17-18% do impacto do 1º lugar (Dinamarca) em História. Em outras palavras, a Dinamarca teve 5,7 vezes mais impacto do que o Brasil nesse tema acadêmico.

Analisemos agora outras subáreas das humanas. Antropologia: 20º lugar de 22 países em 2016, e 18º lugar de 22 países em 2015. Sociologia: 43º de 46 países em 2016, e 40º de 43 países em 2015. Linguística: 40º de 44 países em 2016, e 36º de 37 países em 2015. Educação: 53º de 54 países em 2016, e 49º de 50 países em 2015.

‘Excesso de doutores’
Todas essas áreas e subáreas cresceram muito em quantidade de pesquisadores nos últimos 10-15 anos, com aumento consideravelmente grande do número de doutorandos – que são a verdadeira mão de obra “pé de fábrica” das linhas de pesquisa nacionais. Assim, a grande produção de artigos por ano pode ofuscar a qualidade desses estudos. É uma hipótese a se testar utilizando dados disponíveis na literatura e nos sites governamentais. Mas aposto que estou certo: a produção em escala industrial de estudos acadêmicos fez cair a qualidade da ciência, que é atividade artesanal.

Um dado preocupante é o fato da quantidade de recém-doutores ter aumentado 510% entre 1997 e 2017 (formamos mais de 21 mil doutores em 2017). Se muitos acreditam ser uma vitória do Brasil esse crescimento explosivo da “produção” de doutores, vejo isso de forma diferente. Curiosamente, a quantidade de artigos produzidos por ano pelo Brasil aumentou 580% entre 1997 e 2017 – mera coincidência ser um número tão parecido com o do aumento de doutores?

Para mim, o baixo impacto de nossa atividade acadêmica foi causado pelo crescimento descontrolado e irresponsável de recém-doutores. Muitas teses que foram defendidas se transformaram em artigos de baixo impacto acadêmico – com poucas citações, ou mesmo nenhuma. Por ora, fica a mensagem de que nossa produção cientifica tem baixa visibilidade mundial – poucos leem e citam tais estudos. Se são pouco citados, devem ter baixa utilidade acadêmica. O brasileiro paga grande parte dessa conta. Será que os pagadores de impostos estão satisfeitos?

Alô, Bolsonaro, precisamos de você para mudar profundamente essa situação vexatória do Brasil na ciência.

*Marcelo Hermes-Lima é pesquisador e professor de bioquímica na Universidade de Brasília (UnB). Tem mais de 5,8 mil citações em revistas científicas internacionais.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

A esquerda liderada pelo PT é o braço político de uma gigantesca rede de tráfico internacional de drogas


Combate ao PCC e o desespero da esquerda

Por João Cesar de Melo, publicado pelo Instituto Liberal

Na semana passada, o Ministério da Justiça atualizou os números do combate ao tráfico de drogas. Nos primeiros oito meses deste ano, foram apreendidas 67 toneladas de cocaína, o que representa 85% do que foi apreendido em todo o ano passado. Foram apreendidas ainda 233,5 toneladas de maconha e destruídos 751 hectares de plantação dessa droga.

Ontem, foi preso em Angra dos Reis o homem apontado pela Interpool como sendo o responsável pelas operações de tráfico internacional de drogas do PCC. Foram apreendidos com ele dois helicópteros e uma lancha avaliada em seis milhões de reais.

Essas notícias significam:

1 – enormes prejuízos para os grandes traficantes;

2 – a redução da oferta e o consequente aumento do preço das drogas;

3 – a desestruturação de uma poderosíssima organização criminosa responsável também por roubos, assaltos e assassinatos.

Diante desses fatos, precisamos correlacionar vários outros.

Basta-nos digitar “PCC invasões MTST” no Google para termos acesso a dezenas de matérias sobre as relações do grupo de Guilherme Boulos (PSOL) com a citada organização conhecida não apenas por controlar grande parte do tráfico de drogas no país, mas também roubos, assaltos e assassinatos.

Recentemente, tivemos as gravações divulgadas pela Polícia Federal em que uma liderança do PCC reclama do atual governo, com ele afirmando que bom mesmo era nos tempos do PT, com quem sempre tinham “diálogo”. Qual grande veículo de comunicação se preocupou em explorar o assunto? Nenhum. Nas tantas entrevistas que a imprensa realiza com Dilma e até com Lula, preso, alguém perguntou sobre isso? Não.

Ainda no Google, podemos achar outros tantos links com informações sobre as relações da ditadura socialista na Venezuela com o tráfico internacional de drogas.

Citando apenas um caso: em 13 de junho de 2015 (últimos dias de governo Dilma), Lula (ainda em liberdade) recebeu a visita de Diosdado Cabello, Presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, que esteve no Brasil em visita não-oficial. O detalhe: ele é apontado pelo FBI como um dos maiores barões da cocaína do mundo, ligado ao Cartel dos Sóis. Esse cartel, formado por militares venezuelanos, tornou-se notícia em 2013, quando um carregamento de 1,3 toneladas de cocaína, que havia saído de Caracas, foi apreendido no aeroporto de Paris. A droga estava distribuída em 31 malas e havia passado por uma única inspeção: a dos militares venezuelanos.

Segundo um ex-guarda-costas de Diosdado Cabello, que coopera com a justiça americana, ele comanda 90% da exportação da cocaína produzida pelas FARC, grupo comunista que provocou a guerra civil que atormentou grande parte da Colômbia por seis décadas, deixando mais de 260 mil mortes, além de um número ainda maior de crimes como atentados, sequestros, estupros e torturas.

Os únicos países que Diosdado Cabello podia visitar sem risco de ser preso eram Cuba e Brasil.

Segundo o cientista político John Polga-Hecimovich (link abaixo), há pelo menos 123 militares de alta patente da ditadura socialista da Venezuela envolvidos diretamente no tráfico internacional de drogas, intermediando os carregamentos originários das FARC para países europeus.

Falando nas FARC…

O grupo terrorista mudou de nome em 2017. De Forças Armadas Revolucionárias Colombianas, passou a se apresentar como Força Alternativa Revolucionária do Comum. No site do PT, consta a íntegra do texto “FARC se solidariza con Lula”. Um mês atrás, membros das FARC anunciaram a volta à luta armada.

Falando em Lula…

Logo no início de seu primeiro mandato, em 2005, o petista recebeu informações detalhadas sobre as relações das FARC com o MST, na ocasião, treinando brasileiros para atividades de guerrilha. (link abaixo) Qual a reação de Lula? Nenhuma.

Como sabemos, as FARC e o PT de Lula integram o Foro de São Paulo, a organização de esquerda que articulou a criação de um bloco socialista na América Latina.

Outro caso que vale ser lembrado é o dos dois sobrinhos de Cilia Flores (esposa de Nicolás Maduro), que foram condenados nos Estados Unidos por planejar o transporte de 800 quilos de cocaína. A droga havia sido produzida na Colômbia, por produtores protegidos pelas FARC.

Cilia Flores é pessoa muito influente no governo venezuelano, atuando no movimento socialista do país desde antes da chegada de Hugo Chávez ao poder.

Falando nele…

Começaram com Hugo Chávez os atritos com a vizinha Colômbia, país que naquele período empenhou grandes esforços – com apoio financeiro e militar dos EUA − para conter o tráfico de drogas e a atuação das FARC.

Já que os petistas adoram citar o caso da “cocaína do Aécio”, devemos nos lembrar de que o tucano estudou em Cuba e que a irmã dele foi uma das fundadoras do PT no Rio de Janeiro. Ou seja: Aécio é quase tão esquerdista quanto qualquer petista.

Falando no PT…

Em maio de 2016, um vereador do PT de Avaré-SP acompanhava o transporte de 200 kg de maconha numa caminhonete quando o veículo foi interceptado pela polícia. O vereador reagiu tentando subornar os policiais. Há também o caso de outro vereador petista, este, de Xambrê-PR, acusado de transportar 250 kg de maconha.

“Curiosamente”, casos relacionando tráfico de drogas a pessoas, movimentos e partidos de esquerda são esquecidos pela grande imprensa.

Em 2016, um adolescente morreu esfaqueado dentro de uma escola pública invadida pela UNE. Ele e o assassino estavam drogados. (link abaixo). Um caso gravíssimo como esse desapareceu dos jornais em poucos dias. No Congresso, tentaram abrir a CPI da UNE que investigaria, dentre outras coisas, a morte do garoto, mas o PCdoB conseguiu selar um acordo com Rodrigo Maia − naquela mesma época, chamado de “golpista” pelo partido − e pronto, o caso foi esquecido.

Há pouco menos de um ano, tivemos um partidário do PSOL tentando assassinar o candidato à presidência da república, líder nas pesquisas e que prometia fazer o que está fazendo hoje: endurecer o combate ao tráfico de drogas. Adélio Bispo de Oliveira foi financiado por quem? Quem pagou seus advogados? Quem colocou o nome dele na lista de visitantes no Congresso Nacional no dia em que ele cometia o crime, a centenas de quilômetros em Brasília? A grande imprensa, dominada pela esquerda, não demonstra interesse em saber.

Alguns meses atrás, tivemos o caso do sargento da aeronáutica que foi preso com 39 quilos de cocaína na Espanha, quando dava suporte à comitiva de Jair Bolsonaro numa viagem à Europa. Imediatamente, toda a grande imprensa e os canais midiáticos do PT repercutiram a notícia sugerindo envolvimento do presidente. Porém, o assunto foi retirado das manchetes logo que ficamos sabendo que o militar vinha nessa “missão” desde os tempos de Dilma.

A grande imprensa, sempre muito “preocupada” com a educação, também não se interessa em levar às massas uma assombrosa realidade: a transformação das universidades públicas em antros de tráfico e consumo de drogas.

Tamanho absurdo é sustentado pelo engajamento de partidos de esquerda em não permitir ações da polícia nos campus. Nos canais “isentões” da internet, como Catraca Livre e Quebrando o Tabu, predominam os assuntos relacionados a sexo e… Legalização da maconha!

Precisamos nos lembrar ainda do engajamento dos partidos de esquerda contra o endurecimento das leis de combate ao crime, contra a polícia e contra as milícias – pessoas comuns que se associam a policiais para, na maioria das vezes, matar ladrões, assassinos e traficantes. Nunca vimos a esquerda dentro ou fora do congresso se manifestando contra traficantes de drogas.

Leia também:  A hipocrisia da falsa imparcialidade jornalística: o caso do sequestro na Ponte
Não podemos nos esquecer também da política de escancaramento das fronteiras que os governos de FHC, Lula e Dilma promoveram, justamente no período de desarmamento da população. Ou seja: abriram o país para a entrada de armas ilegais enquanto impediam que cidadãos honestos pudessem comprar armas legalmente. Fronteiras escancaradas também para a entrada de drogas e fluxo de criminosos.

Diante de tudo isso, minha opinião é a seguinte: a esquerda liderada pelo PT é o braço político de uma gigantesca rede de tráfico internacional de drogas. A campanha da esquerda contra Sérgio Moro e pela libertação de Lula é, sobretudo, um esforço para deter as novas políticas de combate ao tráfico de drogas. Não me surpreenderei se logo começarem a acontecer atentados piores do que aquele contra Jair Bolsonaro. Mais uma herança maldita deixada por tucanos e petistas.

Finalizo com dois esclarecimentos:

1 – Não consumo drogas, porém, como liberal, defendo a legalização em respeito ao princípio de liberdade individual, algo bem diferente do que fazem os socialistas, que defendem a legalização apenas como forma de “arrebanhamento” de militantes entre os mais jovens, dado que em nenhum país controlado plenamente por eles, sequer o consumo da maconha foi legalizado – as penas para consumo e tráfico em Cuba são mais rígidas do que no Brasil.

2 – Apesar de defender a legalização, essa pauta encontra-se no final da minha lista de prioridades. Minhas maiores preocupações são com a proteção da propriedade privada, por plena liberdade econômica, pela preservação da inocência das crianças e pelo direito de cada indivíduo poder defender seu negócio, sua família e sua própria vida. No Brasil atual, a pauta da legalização das drogas não tem a menor importância para mim.

domingo, 15 de setembro de 2019

Guilherme Fiuza - Democratas de Programa


A prostituição está legalizada – para quem tem fantasia de herói da democracia. Você desfila na calçada gritando que a democracia está ameaçada e vende seu corpinho numa boa. É cada vez maior o contingente de pessoas com excelente formação optando por essa vida fácil – que deve ser maravilhosa, porque ninguém está nem ligando para o estigma da prostituição. Ao contrário, estigmatizados hoje são os que não se prostituem.

Deve ter alguma coisa errada com essa gente que não ganha a vida soltando versinhos apocalípticos sobre a democracia em perigo. Ganham a vida como, então? Só podem estar roubando.

Se você ainda não aderiu a esse vidão, não perca tempo. Basta consultar o cafetão mais próximo – e não fique pensando que vai ter de lidar com barra pesada. Estamos falando de cafetinagem fina, tudo gente educada, bem-pensante, tem até PhD. Esses simpáticos e afáveis cafetões modernos poderão te oferecer excelentes oportunidades de prostituição intelectual em institutos, ONGs, partidos, universidades, sites, jornais e até em empresas. Você só precisa ter boa aparência e cara de pau.

O tipo de cantada para atrair o cliente fica a seu critério, mas eles vão te dar boas dicas. Você pode dizer, por exemplo, que a democracia está queimando junto com a Amazônia – é uma das cantadas mais usadas atualmente, e funciona super bem. Se for um daqueles clientes chatos que pensam, e portanto sabem que as queimadas já foram idênticas em outros governos, não perca seu tempo: dê um boa noite, Cinderela no fascista, tome a grana dele e parta para o próximo.

Não quer se meter em assunto complexo, que te exija um pouco de leitura e compreensão? Nenhum problema! Liga o computador, entra em alguma rede social, acha qualquer frase idiota do sobrinho do primo do cachorro de algum general e grita na calçada: estão ameaçando a democracia! Grita e chora. Você não vai ter que cair no chão e espernear, porque já vai ter um otário comprando o teu programa – e cuidado: eles se apaixonam.

Outro programa de democracia em perigo – conteúdo adulto que tem tido uma saída maravilhosa é o do massacre fascista contra a educação. Mas se algum abusado chegar perto de você para dizer que é só contingenciamento de verbas, como todo governo faz, pega a sua bolsa ditadura e dá na cara dele – antes que o miliciano dos infernos te mande olhar em volta para constatar que a liberdade é plena no país e todas as pessoas e instituições estão com suas vozes e seus direitos intactos. Despacha logo o reaça porque ninguém merece esse tipo de truculência.

Para que você tenha sucesso como garota/garoto de programa do apocalipse fascista é importante anotar a lista das coisas que são DEMOCRÁTICAS, segundo os códigos dessa profissão fascinante:

- usar o jornalismo para inventar que a eleição foi decidida num golpe do WhatsApp;

- divulgar mensagens roubadas das autoridades que capturaram a maior quadrilha do país e inventar interpretações criativas que tentem incriminar quem cumpriu a lei;

- montar com a suprema corte um plano para soltar na mão grande o chefe da quadrilha, fazendo uma gambiarra de liberdade provisória e torcendo para ninguém notar;

- acusar de fascistas pessoas comuns que se manifestam nas ruas em defesa da reforma da Previdência;

- tentar sabotar a reforma da Previdência espalhando mentiras e difamações contra os responsáveis pelo projeto, porque eles fazem parte de um governo que você demoniza para poder vender seu corpinho como herói democrata;

- mentir a plenos pulmões dia sim e outro também sobre as relações dos ministros mais importantes do governo com o presidente, inventando crises para ver se dá tudo errado na agenda de reconstrução do país;

- bloquear ao máximo qualquer informação sobre queda da violência, aumento do emprego, desburocratização, reformas e privatizações de infraestrutura, elevação das projeções de investimento, enfim, qualquer desses absurdos que desminta o seu bordão sagrado sobre um governo que não governa e só existe para ameaçar a democracia.

Importante: todo bom democrata de programa deve manter seu travesseiro amordaçado para que ele não resolva falar demais e atrapalhar o seu sono.

Gazeta do Povo