Editorial da Gazeta do
Povo
Depois de participar do
Fórum Econômico Mundial, na cidade suíça de Davos, em janeiro, o presidente
Jair Bolsonaro voltou a falar ao mundo na abertura da Assembleia Geral da
Organização das Nações Unidas – evento no qual, tradicionalmente, o primeiro
chefe de Estado a falar é o brasileiro. Por mais que as palavras mais
aguardadas de Bolsonaro fossem aquelas sobre a Amazônia – dada a repercussão
internacional das recentes queimadas na região –, o presidente não se resumiu à
questão ambiental. Fez um discurso sólido, de envergadura, posicionando-se de
maneira firme e crítica, embora respeitosa, sobre muitos outros temas que lhe
são caros e descrevendo a nova postura que o Brasil está assumindo no cenário
internacional, nos campos político, econômico e moral.
Bolsonaro abordou alguns
temas mais consensuais, como a promoção da democracia no continente americano.
O presidente foi duro com o ditador Nicolás Maduro e deixou claro que o caso
venezuelano não é de mera “crise econômica”, mas da aplicação fiel das
ideologias de esquerda. “O socialismo está dando certo na Venezuela: todos
estão pobres e sem liberdade”, disse Bolsonaro, lembrando o destino inevitável
de toda nação onde os princípios socialistas são aplicados. O presidente também
citou o programa Mais Médicos, desenhado especialmente para financiar a
ditadura cubana, com a complacência de órgãos internacionais. A menção à ONU,
aqui, não foi nem de longe gratuita, pois a Organização Pan-Americana de Saúde
(Opas), parte da triangulação que envolvia também o governo Dilma e o governo
cubano, é parte do sistema das Nações Unidas.
E, assim como havia feito
em Davos, Bolsonaro fez questão de mostrar o Brasil como um país que deseja se
tornar, finalmente, um local atrativo para se fazer negócios. “O livre mercado,
as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil”,
afirmou, demonstrando a iniciativa de aprofundar o enxugamento do Estado e a
desburocratização da atividade empreendedora iniciada com a Lei de Liberdade
Econômica. Bolsonaro também mencionou o desejo brasileiro de maior inserção
internacional, citando os recentes acordos comerciais com a União Europeia e o
Efta, e a intenção de aderir à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE).
Os trechos mais
aguardados do discurso, no entanto, eram aqueles referentes à Amazônia.
Bolsonaro respondeu aos que o descreveram como um líder que pouco se importa
com o meio ambiente, defendendo o “compromisso solene com a preservação do meio
ambiente e do desenvolvimento sustentável”, e mostrando sua disposição em
aceitar a cooperação internacional sempre que ela não signifique ameaças à
soberania internacional e tentativas de “neocolonizar” a região, em uma
referência velada ma non troppo ao presidente francês, Emmanuel Macron, que, no
auge da crise das queimadas, havia falado na internacionalização da Amazônia.
Mas o coração da fala de
Bolsonaro não estava nem na Venezuela, nem no liberalismo econômico, nem na
questão ambiental. No fim do ano passado, afirmamos que o que se esperava de um
país do porte do Brasil era que não se isolasse do sistema internacional, mas usasse
sua influência para que os organismos internacionais promovessem a dignidade de
cada ser humano, desde a concepção até a morte natural. E, com suas palavras na
Assembleia Geral, Bolsonaro mostrou que o país abraçará este desafio e pretende
ser, nos fóruns multilaterais, um defensor ferrenho da vida e da família e a
voz das vítimas de perseguição religiosa.
No fim do discurso, o
presidente afirmou que o Brasil está disposto a “assumir as responsabilidades
que nos cabem no sistema internacional” e exortou a ONU a “derrotar o ambiente
materialista e ideológico que compromete alguns princípios básicos da dignidade
humana”. Esta não é tarefa simples: muitas das imposições ideológicas daninhas
que Bolsonaro mencionou em seu discurso, como a ideologia de gênero e o
desrespeito à vida e à família, encontram guarida dentro do próprio sistema da
ONU, usado por militantes para impor seu ideário, especialmente sobre países
com menos capacidade de resistir à pressão. Enquanto nos anos 90 a questão
populacional e a meritória defesa dos direitos da mulher eram pretexto para se
avançar uma agenda de “direitos reprodutivos”, termo eufemístico para a
promoção do aborto e outras práticas contrárias à dignidade humana, agora até
as mudanças climáticas têm sido instrumentalizadas com essa finalidade. Já era
hora de uma voz de peso, como a brasileira, se engajar na desconstrução desse
discurso militante.
O sistema internacional
do pós-Segunda Guerra nasceu tendo como prioridades a cooperação entre as
nações, a promoção da paz e o combate à pobreza. Com seu discurso, Bolsonaro
lembrou ao mundo todo essa verdade simples e desmascarou os “engenheiros
sociais” que parasitam a ONU e suas entidades. No passado, o petismo usou a
expressão “ativa e altiva” para descrever uma diplomacia que não passava de
camaradagem com ditaduras e silêncio (quando não conivência) diante das ameaças
à dignidade humana. A verdadeira atividade e altivez, no entanto, está na
coragem de defender a vida de todos os seres humanos e a célula básica da sociedade.

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